Cultivo de Crisântemos
Jardim

Cultivo de Crisântemos


Crisântemo de Inflorescência Decorativa 'Fine Time'

Histórico
O crisântemo dos floristas, ou Dendranthema x grandiflorum (Ramat.) Kitam. (sin. D. grandiflora Tzvelev., D. morifolia Ramat. e Chrysanthemum morifolium Ramat.), família Asteraceae, é um híbrido complexo, que se produzido por sementes segrega em muitas formas diversas. A maioria das espécies que compõe as linhagens dos cultivares atuais são originários da Ásia, em especial da China. A palavra crisântemo significa "flor dourada", vindo do grego "chrysos", ouro e änthemon", flor. Existem relatos de seu cultivo há mais de 2.000 anos como flor de jardim na Ásia, sendo ele a flor nacional do Japão. Foi cultivado na Europa pela primeira vez por volta de 1688-89, pelo mercador holandês Jacob Breynius, e há registro de sua entrada nos Estados Unidos por volta de 1764 no Chelsea Physical Garden. Foi somente por volta de 1789, porém, que a introdução realmente começou, inicialmente pela França e no ano seguinte no Kew Gardens na Inglaterra. Desde estes tempos o crisântemo tem sido melhorado e selecionado não só em relação ao formato e cor, mas também na sua adequação ao cultivo durante o ano todo, resistência ao frio e calor e também na sua resistência pós-colheita. Com técnica desenvolvida inicialmente por Laurie e seus colaboradores em 1930, a partir da década de 50 produtores comerciais iniciaram o controle da produção pelo número de horas escuras do dia, o que permitiu a colheita durante o ano todo.. A produção foi voltada inicialmente para corte e posteriormente para plantas em vaso.
Atualmente existem milhares de variedades adequadas às diferentes condições de cultivo e ao uso tanto como flor de vaso, corte ou jardim.

Formatos das Inflorescências
O crisântemo dos floristas é na verdade uma inflorescência composta, com flores nascidas em um receptáculo ou capítulo. O que popularmente conhecemos como flor, é um conjunto de flores. Nas inflorescências simples, tipo margarida, os dois tipos de flores existentes são bem característicos. As externas e geralmente mais longas, possuem somente pistilo (parte feminina), mas conhecidas por nós como pétalas, e as centrais, ou olho da margarida, que são bisexuadas (parte masculina e feminina) e geralmente férteis.

As formas mais comuns de inflorescências, que daqui em diante denominaremos simplesmente de flores, são as seguintes:
*Simples ou tipo margarida: composta de uma ou duas filas de flores pistiladas externas (pétalas) e flores internas em um disco achatado central. As pétalas podem ser em formato normal ou em forma de quilha ou colher.
*Anêmona ou girassol: similar à simples, porém as flores do disco central são alongadas e tubulares. Muitas variedades com esse formato possuem dois tons de cor, sendo popularmente chamadas de olho-de-gato.
*Pompons: Inflorescências globulares, formadas por pequenas pétalas. As flores do disco interno não são aparentes.
*Decorativas: Similares aos pompons, compostas basicamente de flores pistiladas, porém as pétalas externas são mais longas que as internas, dando uma aparência achatada.
*Spider, Fuji e Spaghetti: Inflorescências similares às decorativas porém mais achatadas e com as pétalas externas tubulares e bastante longas e em alguns casos alternando mais longas e mais curtas. Spider significa, em inglês, "aranha".
*Inflorescências globosas de grande tamanho, tipo "bola" ou standard: É um tipo decorativo, com as pétalas encurvadas dando um aspecto globoso. Classificadas em muitas formas como os formais encurvados duplos (tipo globoso com pétalas curvadas em direção ao topo) e reflexo duplo (tipo menos globoso que o anterior). Esse grupo geralmente é cultivado sem desponte (pinch), e com retirada das flores laterais de forma a ser obtida somente uma flor de grande tamanho por estaca plantada.

As formas de condução
Existem duas classificações teóricas da forma de condução das plantas durante seu cultivo. Em primeiro lugar temos a classificação de acordo com a quantidade de flores que ficam em cada haste ou "galho", e, em segundo, de acordo com o número de hastes ou "galhos" que temos por muda plantada.

a) Quanto ao número de flores por haste
Os crisântemos são cultivados de duas formas básicas, de acordo com a demanda de mercado e a variedade:
. Disbuds ou com a retirada das flores secundárias: usual no Brasil para a produção das variedades decorativas em vasos e para variedades tipo "bola". Nesse caso em cada haste é deixada somente a flor terminal, retirando-se os botões florais laterais.
. Spray: é feita a retirada somente da flor central, que usualmente abriria antes das demais, permitindo assim que as outras se desenvolvam mais uniformemente. É utilizada tradicionalmente nas variedades tipo margarida ou girassol em vaso. Em variedades para corte, exceto nas tipo "bola", faz-se a remoção do botão floral terminal, deixando-se três a sete laterais, de acordo com o vigor da haste e a variedade. Os que estariam mais abaixo são retirados.

b) Quanto ao número de hastes por muda
São cultivados de duas formas, de acordo com o objetivo do cultivo, o custo/benefício da muda, a demanda de mercado e a variedade:
. Haste única: somente uma haste por muda plantada. Utilizada habitualmente no cultivo de todos os tipos para corte e em variedades para vaso tipo "bola". Nesse grupo estão também os crisântemos tipo "sombrero", quando se cultiva uma estaca de variedade tipo margarida, spider ou decorativo de grande tamanho por vaso de 10-11 cm, com objetivo de produzir somente uma flor.
. Hastes múltiplas: diversas hastes, em geral de 3 a 5 hastes principais por muda plantada, o que é obtido através da brotação lateral estimulada pela a retirada do meristema apical, ou seja, a ponta da muda. A essa operação denominamos pinch, que significa beliscão em inglês. Utilizada em sistema antigo de produção de corte e atualmente em vasos de variedades tipo decorativo, spider, margarida e girassol. Uma variante desse sistema é o tipo "multiflora", com uma muda por vaso e um ou dois pinchs, com objetivo de obter uma planta cheia, arredondada, com inúmeras flores de pequeno tamanho.

. A resposta ao comprimento do dia ou fotoperíodo
O crisântemo é classificado como uma planta de dias curtos, que tem o florescimento induzido naturalmente em períodos com dias de menos de 14 ½ horas de luz, existindo variações de acordo com a variedade e temperatura. Na verdade o fator determinante é o número de horas de escuro (skotoperiodismo) presente em um período de 24 horas. Esse comportamento é determinado por um pigmento sensível à luz chamado fitocromo, encontrado nas folhas das plantas. Ele apresenta duas formas:
Fverm - forma receptiva à luz vermelha (comprimento de onda de 660 nm)
Finfraverm - forma receptiva à luz infra-vermelha (comprimento de onda de 720-730 nm), sendo a forma ativa do pigmento. Em plantas de dias curtos, como os crisântemos, sua presença evita o florescimento, ocorrendo o inverso em plantas de dias longos.
No caso do crisântemo, quando se aplica luz na faixa do vermelho, ou seja, luminosidade natural do dia ou lâmpadas incandescentes ou fluorescentes, por um período e intensidade suficientes, o fitocromo se converte imediatamente na forma ativa, não havendo a formação do botão floral. Quando se aplica luz infra-vermelha, ou, de forma mais lenta, na ausência de luz por período suficiente, o fitocromo se converte na forma inativa, havendo a floração. No caso dos crisântemos o florescimento normalmente é evitado com a aplicação de duas a quatro horas de luz no meio da noite, dividindo-a em duas partes, nenhuma delas longa o suficiente para o processo lento de conversão do Finfraverm para Fverm .

. As estações do ano e o comportamento fotoperíodico
O crisântemo na região sul do Brasil é chamado também de "flor de páscoa", por florescer no outono, período próximo à Páscoa. Esta característica se deve à variação natural do comprimento do dia de acordo com as estações do ano.
Para entender melhor como esta variação funciona, e também como se dão as estações do ano, devemos saber que a Terra tem seu eixo de rotação 23,5º fora de ser perpendicular ao plano orbital em volta do sol. Define-se assim o Trópico de Câncer a 23,5º ao norte da Linha do Equador (linha imaginária que divide a terra em norte e sul), e o Trópico de Capricórnio a 23,5º ao sul. No solstício de verão no hemisfério sul (aproximadamente 21 de dezembro) o sol está exatamente sobre o Trópico de Capricórnio, tendo-se o dia com mais horas de luz, e no solstício de inverno no hemisfério sul (aproximadamente 21 de junho) o sol está exatamente sobre o Trópico de Câncer, tendo-se o dia com menos horas de luz em nosso hemisfério. Essa variação faz com que não se receba a mesma quantidade de luz a cada dia do ano, com maiores variações quanto mais ao sul ou ao norte do equador estamos. Ou seja, quanto maior a latitude, maior a variação entre o dia mais longo e o dia mais curto do ano.
Nos equinócios, que correspondem à entrada do outono e da primavera, aproximadamente 21 de março e 22 de setembro, o número de horas de sol do dia e o comprimento da noite se eqüivalem em 12 horas. Porém, um fator a ser considerado na avaliação de comprimento natural do dia é que as plantas são sensíveis à luz quanto o sol está em torno de 6º abaixo do horizonte (antes da alvorada e após o pôr-do-sol). Assim, nos equinócios, as plantas percebem efetivamente em torno de 13 horas de luz, ao invés de 12 horas. Esse dado é importante na avaliação de em qual época do ano necessitamos interferir no comprimento do dia com o escurecimento artificial ou com a iluminação artificial, objetivando uma produção fora do período natural.

. O tempo de reação
Como já foi visto anteriormente o crisântemo é uma planta que responde ao fotoperíodo, sendo considerada de dias curtos por ter, de forma geral, seu florescimento induzido quando exposta a períodos com dias de menos de 13½ horas de luz . Outra definição importante é a de tempo de reação, que é o período, avaliado em semanas, necessário entre o início da indução do florescimento até o início da abertura das flores. Esta é, de certa forma, uma avaliação numérica de precocidade. Cultivares no grupo de reação de seis semanas, por exemplo, levam seis semanas desde o início dos dias curtos até o florescimento. Existem variedades de 6 até 15 semanas de tempo de reação, porém comercialmente elas situam-se entre 7½ e 11 semanas para corte, 7½ e 10 semanas para vaso e 6 a 8 semanas em crisântemos para jardim. Plantas com tempo de reação maior demoram muito para serem produzidas e seu cultivo em geral não é economicamente viável.

. O processo de controle do fotoperíodo
Para tornar mais claro o processo de controle do comprimento do dia na produção comercial, utiliza-se de forma genérica um sistema de condução do fotoperíodo considerando variedades comerciais (9 a 11 semanas de tempo de reação) e temperatura média de 18 ºC (4).

O processo divide-se em três partes:
. Fase de crescimento vegetativo:
Acontece naturalmente quando o número de horas de luz do dia é maior que 14 ½ horas. Para segurança os produtores consideram 15 horas. Nesta fase a planta cresce vegetativamente, não formando inflorescências. Quanto maior o tempo decorrido nesta fase, maior a altura potencial da planta. Na produção comercial usualmente utiliza-se iluminação artificial durante a noite, das 22 às 2 horas, dividindo a noite longa em dois períodos menores. Esta luz pode ser intermitente, com períodos de 6 minutos de luz para 24 minutos de escuro. As plantas devem receber ao nível das folhas no mínimo 108 lux (ou 10 foot-candle, que é outra unidade de medida de intensidade luminosa). É importante lembrar que esta intensidade luminosa não tem o objetivo de promover crescimento e fotossíntese, mas sim de atuar sobre o controle fotoperiódico da planta.

. Iniciação da inflorescência - Fase Generativa:
A iniciação ocorre quando o fotoperíodo é igual ou menor do que 14½ horas/ dia.
Se o fotoperíodo não continuar a decrescer (como no outono), ou for mais longo do que 13½ horas, será formado somente o receptáculo da flor (botão), mas não se desenvolverá a flor completa, seguindo o crescimento vegetativo. Em geral, quanto mais longo o tempo de reação da variedade, maior o número de horas de período escuro necessário para a iniciação da inflorescência e para a iniciação da flor. Esse fator também é influenciado pela temperatura. Nas regiões mais ao sul, dependendo da latitude, nos meses de inverno o comprimento do dia pode ser curto o suficiente para haver naturalmente a iniciação da inflorescência.

. Iniciação da flor - Fase Generativa:
Acontece com fotoperíodo (período com luz) menor que 13½ horas/dia (com mudanças de acordo com a variedade e a temperatura). Para segurança os produtores consideram dias com menos de 12 horas de período com luz. Os crisântemos requerem de forma geral em média 6 semanas de dias curtos ininterruptos para completar o processo de iniciação, após as quais o fotoperíodo pode ser alterado que o desenvolvimento normal da flor irá ocorrer. Caso dias longos sejam aplicados após esse período, a floração será levemente atrasada e as flores serão cerca de 8% a 10% maiores. Essa técnica, chamada de "after lightining" pode ser utilizada quando se quer produzir standards de grandes inflorescências. Muitos cultivares não respondem a esse tratamento, sendo aconselhável que os produtores façam testes antes de aplicar esta técnica.
Quando o botão floral começa a mostrar a cor, o fotoperíodo tem pouco efeito no tamanho da planta, tamanho da flor e no ciclo.

. Propagação: produção das mudas
Comercialmente, para corte e plantas em vaso, o crisântemo é propagado exclusivamente de forma vegetativa, através de estacas dos brotos terminais cultivados sob dias longos. A produção destas estacas pode ser conduzida pelo plantador mas normalmente é feita por empresas especializadas tendo em conta a necessidade de manutenção de perfeitas condições de fitossanidade, renovação constante das matrizes e freqüente introdução de novas variedades. As empresas exigem do comprador uma programação anual de fornecimento, necessária para haver garantia de entrega das variedades desejadas.
O crisântemo é uma planta quantitativa de dias curtos, que irá eventualmente florescer mesmo em situação de dias longo. Por essa razão as plantas são sempre despontadas para eliminar os brotos desenvolvidos, mesmo que esses não venham a ser utilizados para a propagação. A iluminação noturna também é diferenciada, sendo constante ou intermitente por um período superior ao utilizado para a produção da flor (das 21 às 5 horas por exemplo).
As plantas destinadas à produção de mudas são cultivadas em geral no solo, com espaçamento médio de 15X15 cm. Têm uma vida útil média de 20 semanas, sendo 4 de crescimento e 16 semanas de colheita de novas estacas. Após este período as plantas são eliminadas pois suas mudas são mais sujeitas a produzir florescimento precoce, além do risco de apresentarem problemas fitossanitários. São colhidas de 0,7 à 2,0 mudas por matriz por semana, resultando em uma produção total de 11 a 32 mudas por matriz ao final do ciclo. Essa variação deve-se ao tipo de variedade, em especial ao seu vigor. De forma geral as plantas destinadas a corte são mais vigorosas e produzem mudas mais facilmente. As estacas são colhidas com 4 cm se forem gardinis (para jardim ou vaso pequeno), 5 cm se forem para vaso e 6 cm se forem as variedades para corte. Estacas maiores, até 10 cm, podem ser produzidas, mas isso aumenta o custo e as possibilidades de uma indução precoce de florescimento.

Após colhidas, as estacas podem ser plantadas imediatamente ou conservadas a 2-3 ºC por até 4 semanas em embalagens de polietileno perfurado para prevenir ressecamento. Em pequenas produções pode-se conservar as estacas por até duas semanas nas embalagens de plástico, utilizando a gaveta inferior do refrigerador doméstico, sobre uma camada de serragem úmida.
Para melhorar a emissão de raízes as bases das estacas são mergulhadas em talco com 0,1 a 0,2% de ácido indolbutírico (AIB), um hormônio vegetal para enraizamento. Normalmente isso já é feito pelo produtor das mudas.

Cada lote plantado para produção de mudas deve ter pelo menos 1% cultivado para teste, identificando eventuais instabilidades genéticas ou misturas varietais, em especial de cultivares de mesma linhagem porém de cores diferentes.
Variedades patenteadas não devem ser propagadas sem autorização e pagamento de royalties ao criador do cultivar.
Existem também sementes híbridas de primeira geração (F1), como por exemplo as variedades "Fashion", "Fanfare New" e "Autumn Glory", que podem ser utilizadas com sucesso em cultivos voltados para a produção de plantas para jardim.

O calendário do floricultor
Antes de passar-se aos aspectos específicos da produção, convém que se faça algumas considerações em relação ao sistema de controle da produção, parte do aspecto gerencial que todo floricultor deve desenvolver para ter sucesso na atividade.
As anotações na área de floricultura são feitas com base no calendário de semana do ano, mais prático do que as anotações por dia e mais adequado à precisão dos procedimentos. Assim temos 52 ou 53 divisões de calendário no ano.
É importante o produtor acostumar-se a fazer anotações das semanas dos procedimentos, desde o plantio, uso de reguladores químicos de crescimento, pinch até a colheita, tendo como local tarjetas anexadas junto aos lotes. Esse controle permitirá fazer análises mais exatas das características das variedades, como por exemplo seu tempo de reação e sua resposta ao regulador de crescimento. Isso gera dados que permitem um posterior planejamento, fornecendo informações como a semana exata de plantio de cada variedade para colheita em datas comemorativas de maior comercialização, de acordo com a característica local de clima. Esse banco de informações baseado na experiência acumulada com o tempo é muito importante e representa resultados econômicos à medida que reduz perdas e aumenta a eficiência.

As "datas.
A comercialização das flores normalmente é motivada pelos eventos sociais, sejam eles aniversários, casamentos, formaturas, festas, recepções, congressos, velórios ou datas comemorativas. Sendo uma planta de fácil programação de produção, comparativamente à maioria das outras flores, o crisântemo serve muito bem à produção visando a datas definidas. Ela é característica no Brasil especialmente para o Dia de Finados (02 de novembro), em segundo lugar para Dia das Mães (muitas vezes para as mães já falecidas) e em menor escala para o Natal/Ano Novo, Dia dos Namorados, Dia dos Pais e Páscoa.
A programação para estas "datas" deve ser feita levando em consideração fatores como variedades e seu tempo de reação, a distância do mercado final - determinando ponto de abertura da flor e momento de colheita - e também o clima local. De forma geral o risco de erro é reduzido com um maior número de variedades e datas de plantio considerando o tempo de reação. Inicie pelas de tempo de reação maior e deixe para o final as de tempo de reação menor. A experiência e as anotações de anos anteriores são o melhor guia para esta programação.



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